segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Amor e solidariedade

Uma família algarvia.

O meu avô Francisco "dos dois anos" paysan na Atalaia, trocava favas, amêndoas, e mais
não sei o quê por peixe. Nunca ficava a perder, excepto quando vendia as modas do harmónio
por aguardente.
Era um gajo porreiro às vezes. Em casa, a comida estava sempre fechada na gaveta (que os algarvios comem na gaveta não fui eu que inventei). A minha avó e os filhos só se sentavam à mesa depois de ele ter a barriga cheia. Partilhava como o leão e chamava a minha mãe que estava a 40 metros para apanhar a turquês que lhe tinha caído das mãos.
-Ah algarvio dum raio (temperado pelas nortadas) que respirava como um boi.

Uma família nortenha.

Por um desígnio de "Deus" passei as minhas últimas férias (cinco meses) hospedado
na estância turística do Hospital Curry Cabral em Lisboa.
Conheci um casal nortenho a viver em Lisboa (que me ajudou ) e que fazia
parte de uma numerosa família aonde a solidariedade e a entre-ajuda era a nota dominante.
Sempre que algum estivesse em dificuldade, reuniam-se e juntavam dinheiro para o ajudar.
Um dia a senhora deu à luz um encantador menino. Feliz e contente e porque era muito
religiosa, foi de imediato a fátima oferecer algum ouro das suas economias para que nada de mal
acontecesse ao menino. Passaram-se meses e o menimo foi vítima de uma grave doença que o deixou paralizado, com um cérebro que não funciona, sem fala e com os membros atrofiados (mais uma das grandes obras de deus). Esse menino (já homem) ainda é vivo e está à alguns anos internado no hospital.
A mãe vai todos os dias, digo TODOS OS DIAS tratar do menino para que ele não morra.
Lavá-lo, tirar as fezes do ânus (porque ele não o faz só) e dar-lhe todos os cuidados inerentes à situação.
Qualquer comparação do meu avô algarvio com esta mãe do norte é pura...
O pai do menino em desespero escreveu ao Papa mas não estava tinha ido ao céu
para um meeting com o maior.
Esta carinhosa e bondosa mãe não sabe de poesia, e pelo o que ouviu da boca da minha
esposa à cerca de mim, pediu-me para fazer um poema para ela dedicar ao querido filho.
Eu não sou poeta, mas por gratidão da sua ajuda e porque penso que ela é uma grande mulher,
escrevi e mandei emoldurar (para ela colocar á cabeceira da cama do filho) o "poema" seguinte.

MIGUEL (o amor maior)

saíste do meu ventre
tão verde e tão querido
para um mundo intemporal
de um universo desconhecido,

como astróide ou cometa
de asas translúcidas inseguras
viajas de galáxia em galáxia
e a milhões de anos luz me procuras

emano a só luz que te ilumina
e sob as minhas mãos
o teu corpo é seda é veludo,
é tudo

mistério do meu ser
quero-te vivo nada me trava
oh quantas vidas daria
para para ouvir dos teus lábios, mãe
a palavra

para ti Miguel da tua mãe e fada,

Irene