Nasceste antes de 1980?
Se nasceste depois de 1980 isto não é contigo. Mas deverias ler na mesma para compreenderes que a geração das fraldas à qual tu pertences não cria heróis. Se como criança viveste nos anos 50, 60 ou 70, olha para trás e vê que parece impossível acreditar que sobrevivemos tanto tempo. Somos uns heróis. Porquê?
Bebemos pouco leite, pouca manteiga, iogurtes !? (nem vê-los), substituímos estes produtos, por peixe salgado, açorda de alhos, batatas com arroz, papas de milho, café de cevada, pão "atrasado”, e comemos fiambre pela primeira vez, aos 14 anos de idade. Os nossos pais trabalhavam e nós ficávamos entregues a nós próprios. As nossas caminhas de colchões cheios de palha eram pintadas de vernizes e tintas tóxicas, os brinquedos de lata e madeira que púnhamos na boca, também continham esses materiais, as embalagens da farmácia abriam-se sem dificuldade, assim como as garrafas de lixívia e os frascos sujos de medicamentos com que brincávamos. As portas e os armários eram um perigo para os nossos dedos. Os sapatos rotos, a roupa e os livros escolares já tinham pertencido aos nossos irmãos, aos nossos vizinhos e outros. Construíamos carros de ladeira que só quando caíamos é que notávamos que faltavam os travões. Os nossos pais dávam-nos nas "ventas” sem cerimónia, jogávamos à bola nas ruas e só jogava quem o dono da bola (de cachul) autorizasse, regra que era aceite resignadamente por todos. As bicicletas demasiado grandes ou demasiado pequenas, não tinham mudanças e os pneus eram remendados por nós próprios. Pedalava-se sem capacetes protectores. Entrávamos no cinema pelas janelas das retretes porque não havia dinheiro para comprar bilhetes. O risco era a nossa profissão. Bebíamos a água da torneira e não da engarrafada. Tirávamos os rebuçados boca e guardávamos para o outro dia. Comíamos sardinhas salgadas, peixe estibado, toucinho, banha e torresmos, sem pensarmos no excesso de sal nem nas calorias e mesmo assim não engordávamos. Bebíamos álcool sem nos viciarmos. Utilizávamos os mesmos copos e ninguém recusava, fumávamos as beatas uns dos outros e não adoecíamos. Saíamos de manhã de casa e voltávamos só à noite sem ninguém se importar por onde andávamos. Ninguém tinha telemóvel, ninguém nos levava a algum lado, nem ninguém nos procurava. Surrávamos uns nos outros, partiam-se dentes, ossos e ninguém era culpado, só nós próprios. Os adultos não se preocupavam connosco. Não tínhamos TV, Playstations, Videos, Computadores, DVDs, Jogos Digitais nem Máquinas de Calcular, só tínhamos os amigos. As portas na nossa rua estavam sempre abertas e ninguém roubava nada. Se alguém discordava, de alguma coisa, tinha de suportar isso sozinho porque não haviam psiquiatras. Não íamos de automóvel para a escola (aonde os professores nos batiam desalmadamente). Nas aulas, os mais ricos ficavam sempre nas cadeiras da frente, aceitando os pobres esta “democracia”. Levávamos pão com azeite e figos torrados para o lanche e se alguém se esquecia do farnel, passava fome porque não havia dinheiro, McDonalds, Burger-Ranch, Pizzarias, etc. Íamos para a escola a pé, mesmo com chuva e frio e ninguém nos ia buscar. Batíam-nos quando faltávamos às aulas de catequese, mas nós os heróis, suportávamos tudo isso e encontrávamos sempre uma solução para qualquer outro problema. Éramos livres e responsáveis com ou sem sucesso e sabíamos viver com toda essa miserável problemática.
Nasceste antes de 1980? Pertences a este grupo? Parabéns, é um herói!
Nasceste depois de 1980? És um feliz “qualquer coisa”.
de: Nasci em 1944
Se nasceste depois de 1980 isto não é contigo. Mas deverias ler na mesma para compreenderes que a geração das fraldas à qual tu pertences não cria heróis. Se como criança viveste nos anos 50, 60 ou 70, olha para trás e vê que parece impossível acreditar que sobrevivemos tanto tempo. Somos uns heróis. Porquê?
Bebemos pouco leite, pouca manteiga, iogurtes !? (nem vê-los), substituímos estes produtos, por peixe salgado, açorda de alhos, batatas com arroz, papas de milho, café de cevada, pão "atrasado”, e comemos fiambre pela primeira vez, aos 14 anos de idade. Os nossos pais trabalhavam e nós ficávamos entregues a nós próprios. As nossas caminhas de colchões cheios de palha eram pintadas de vernizes e tintas tóxicas, os brinquedos de lata e madeira que púnhamos na boca, também continham esses materiais, as embalagens da farmácia abriam-se sem dificuldade, assim como as garrafas de lixívia e os frascos sujos de medicamentos com que brincávamos. As portas e os armários eram um perigo para os nossos dedos. Os sapatos rotos, a roupa e os livros escolares já tinham pertencido aos nossos irmãos, aos nossos vizinhos e outros. Construíamos carros de ladeira que só quando caíamos é que notávamos que faltavam os travões. Os nossos pais dávam-nos nas "ventas” sem cerimónia, jogávamos à bola nas ruas e só jogava quem o dono da bola (de cachul) autorizasse, regra que era aceite resignadamente por todos. As bicicletas demasiado grandes ou demasiado pequenas, não tinham mudanças e os pneus eram remendados por nós próprios. Pedalava-se sem capacetes protectores. Entrávamos no cinema pelas janelas das retretes porque não havia dinheiro para comprar bilhetes. O risco era a nossa profissão. Bebíamos a água da torneira e não da engarrafada. Tirávamos os rebuçados boca e guardávamos para o outro dia. Comíamos sardinhas salgadas, peixe estibado, toucinho, banha e torresmos, sem pensarmos no excesso de sal nem nas calorias e mesmo assim não engordávamos. Bebíamos álcool sem nos viciarmos. Utilizávamos os mesmos copos e ninguém recusava, fumávamos as beatas uns dos outros e não adoecíamos. Saíamos de manhã de casa e voltávamos só à noite sem ninguém se importar por onde andávamos. Ninguém tinha telemóvel, ninguém nos levava a algum lado, nem ninguém nos procurava. Surrávamos uns nos outros, partiam-se dentes, ossos e ninguém era culpado, só nós próprios. Os adultos não se preocupavam connosco. Não tínhamos TV, Playstations, Videos, Computadores, DVDs, Jogos Digitais nem Máquinas de Calcular, só tínhamos os amigos. As portas na nossa rua estavam sempre abertas e ninguém roubava nada. Se alguém discordava, de alguma coisa, tinha de suportar isso sozinho porque não haviam psiquiatras. Não íamos de automóvel para a escola (aonde os professores nos batiam desalmadamente). Nas aulas, os mais ricos ficavam sempre nas cadeiras da frente, aceitando os pobres esta “democracia”. Levávamos pão com azeite e figos torrados para o lanche e se alguém se esquecia do farnel, passava fome porque não havia dinheiro, McDonalds, Burger-Ranch, Pizzarias, etc. Íamos para a escola a pé, mesmo com chuva e frio e ninguém nos ia buscar. Batíam-nos quando faltávamos às aulas de catequese, mas nós os heróis, suportávamos tudo isso e encontrávamos sempre uma solução para qualquer outro problema. Éramos livres e responsáveis com ou sem sucesso e sabíamos viver com toda essa miserável problemática.
Nasceste antes de 1980? Pertences a este grupo? Parabéns, é um herói!
Nasceste depois de 1980? És um feliz “qualquer coisa”.
de: Nasci em 1944