quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A "Tropa Americana" - do Tio Frederico "Félix"

O Tio Frederico "Félix"
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Meninava eu pelo Largo dos Quartéis e pela Rua do Jogo da bola e logo me alegrava, quando ouvia o pregão do Tio Frederico Félix…
- “Tropa Amaricaaaaaaaana”…
- “Canairinhos da Guinéeeee”…
Um curioso personagem que me fascinou e que nunca me saiu da memória. A sua vida, era a arte de saber comprar e vender, na qual se misturava um genial Vendedor Ambulante com um perspicaz Ferro Velho, que palmilhando a cidade, feiras, mercados e arredores, vendia os produtos que confeccionava, e comprava e negociava todo o tipo de bugiganga que achava poder dar-lhe algum lucro. Um dia, fiz-lhe uma visita no seu quintal (na Rua do Jogo da Bola) e fiquei atónito com o seu tesouro, uma pirâmide de tralha (ferros, latas, vidros, madeiras, peças de velhas máquinas, etc.) com quase dois metros de altura.
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Frederico Luiz Palleti (o seu verdadeiro nome), casado com D. Maria de Jesus, viveu 70 e poucos anos e faleceu à cerca de 50. Chamavam-lhe Félix, por associação ao nome da oficina de calçado -Mestre Félix- (em S.José), propriedade do seu irmão Félix.
Entre todos os produtos exclusivos que este versátil “mercador” vendia, destacavam-se; A “Tropa Amaricana” (assim pronunciava ele), nome inspirado nos Drops Americanos. (Era ver a meninada atrás do carro de mão do Tio Frederico, para comprar a “Tropa Amaricana”). Guloseima feita com amêndoas torradas, cacau e açúcar em ponto, que custava dois tostões cada porção embrulhada em cartucho de papel de jornal, os “Canairinhos da Guiné”-Pequenos caranguejos cozidos com casca de laranja (para ficarem rosados) e muito sal, para “puxar a pinga”, as “Batatas doces assadas, as sardinhas salgadas e os biqueirões estibados.
Certo dia, deu à costa na Meia-Praia uma Toninha meio morta. Como ninguém ousou aproveitar o peixe, o Tio Frederico cortou-o em filetes e nos dias da Feira-Franca, vendeu-o em bifes de cebolada. (eu também comi um)
Conta-se que comprou o seu caixão e que o guardou na torre da casa, “aviando-se” para o seu próprio funeral.
Foi por volta de 1952-1954 (quando fui morar para a Rua da Roda) que conheci este“special man". O Tio Frederico "Félix".

*O meu agradecimento à D. Liseta e à sua filha Telma, (neta e bisneta do Tio Frederico “Félix”), pela informação e pela foto, que é de um Frederico mais novo do que aquele que eu conheci.


No lugar de esta Pensão, no Nº17 da Rua do Jogo da Bola, existia a velha casa do Tio Frederico.

*Se por acaso alguém possuir uma foto dessa velha casa, agradeço que me empreste.