quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

E, o Natal vem aí outra vez...

"O Deus gentil que amorosamente projectou todos nós e salpicou o céu com estrelas brilhantes para o nosso deleite – esse Deus é, como o Pai Natal, um mito da infância, não é uma coisa que um adulto são e honesto poderia literalmente crer. Esse Deus deve ou ser transformado em um símbolo de algo menos concreto ou abandonado de uma vez". Daniel Dennett, “Darwin’s Dangerous Idea”.





MAS !?




Muita Música, muitos figos e "pouco" medronho. Saúde !


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Mundo - Reformas na Suíça com tecto máximo de 1700 euros - RTP Noticias, Vídeo

Clique neste endereço e chore...
Mundo - Reformas na Suíça com tecto máximo de 1700 euros - RTP Noticias, Vídeo

Será que os portugueses de reformas chorudas: Exército, Marinha, Força Aérea, Forças Para-militaras, Políticos, Gestores, etc, quereriam que em Portugal fosse assim ?
Não acredito, seguramente o nosso "desgoverno" sabe disto, mas está caladinho.

G A T U N O S....

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Já tinham pensado nisto?



O homem é a única testemunha dos esplendores do universo que habita - embora se tenha mostrado sempre muito menos impressionado com o facto de existir do que seria de esperar. Ainda que as razões subjacentes a essa falta de deslumbramento connosco próprios tenham vindo a mudar, ao longo dos séculos, a mais importante permanece: as questões práticas do nosso quotidiano são tão simples e exigem tão pouco esforço da nossa parte que quase passam despercebidas. Quando acordamos, abrimos os olhos e vemo-nos imediatamente envolvidos pelas formas, sons e odores e pelo movimento dum mundo à nossa volta, a um nível de pormenor absolutamente extraordinário e nítido. Sentimos fome e, por meio de uma qualquer química mágica que desconhecemos por completo, os nossos organismos transformam a comida e a bebida que temos à nossa frente na nossa própria carne e no nosso próprio sangue. Abrimos a boca para falar e as palavras fluem, num incessante jorro tagarela de pensamentos, ideias e impressões. Facilmente reproduzimos a nossa espécie, e não participamos de forma alguma, na transformação, operada em apenas três meses, no óvulo fertelizado num óvulo fertilizado num embrião mais pequeno do que a unha do bosso polegar - cujas quatro mil componentes em pleno funcionamente incluem um coração palpitante do tamanho das letras deste texto, bem como um par de olhos do tamanho do ponto final que conclui esta frase. Suprimimos as necessidades dos nossos filhos, cujos corpos vão crescendo, centímetro a centímetro, de ano para ano, sem a nossa ajuda, até à idade adulta, substituindo, pelo caminho, quase todas as células, remodelando os crânios, os membros e os órgãos internos, e sempre com as propoções certas. Assim que nos dedicamos a refletir sobre estas questões práticas, começamos a - etc, etc, etc...

James Le Fanu

"Quem não lê não pensa, e quem não pensa será para sempre um servo".

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

"Estórias levadas da breca"




Estórias da Aldeia

Querida prima, nós por cá todos bem, e desta vez as hemorróidas não afectaram ninguém. Rima e é bem verdade. A avó lá resolveu o problema dela com gelo. Enfim, modernices que lhe ensina a Mariazinha. Ainda no outro dia começou a falar à velha no swing, mas a avó diz que não vai em danças. Não te preocupes por demorares mais tempo a escrever. Eu sei que a disponibilidade para o fazer será cada vez menor. Eu também já tinha recebido a tua carta há alguns dias, mas tenho andado ocupado. Tenho ajudado o Justino lá na Junta a instalar umas aparelhagens estranhas. Ele diz que aquilo é para fazer uma rádio, já que aqui só conseguimos apanhar a Renascença e, como diz o Justino, «de missa já me basta o domingo». Então tu perdes o emprego por causa de uma crise de choro? Nada de chorar, mulher! Tens que ser forte. Também eles não foram nada simpáticos em mandar-te logo embora, mas talvez até tenha sido melhor, porque quem faz isso só por causa de umas lágrimas não pode ser bom patrão. Vê o lado positivo: se te tivesse dado a tua diarreia nervosa era bem pior. Lembras-te daquela vez na primeira comunhão? Até o padre gritava «ai meu Deus». Já só me consigo lembrar que o teu vestido teve de ser queimado, tal era a dificuldade em tirar as nódoas e o cheirete.Agora corre aqui o rumor que afinal a Mariazinha não lê a Bíblia ao padre, mas está sim a ajudá-lo nas obras da sacristia. No outro dia o padre devia estar a pendurar uns quadros, porque o Justino ouviu a Mariazinha a gritar «mais para a esquerda. Isso, é aí. Agora força, força! Martele!». Está descansada com o Manel porque ele não te anda a trair. Ele não teve tempo porque foi com mãe ao hospital. A culpa foi de um osso de frango que ficou na garganta da D. Hortense. Havias de vê-la toda aflita a gritar «ai que me engasgo» e «ai que ficou entalado». Era de fazer uma pena que nem te digo.Eu vou andando por cá, sempre na mesma. Tenho é uma novidade: ando com uma moça debaixo de olho. Ainda no outro dia lhe paguei uma mini. Depois conto pormenores se isto der certo, ou se lhe pagar mais alguma coisa.Para não dizeres que só leio jornais de porcaria, resolvi começar a ler o dicionário. Como aquilo dá um sono tremendo, só consigo ler umas duas ou três frases. Ainda assim, já aprendi palavras novas. Estou a ficar mais culto.Adeus e um ósculo do primo Augusto. PS – tirei esta do «ósculo» lá do dicionário.


posted by RM

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O "vínculo" de Vasco Pulido Valente

Devorada pelo "monstro"

Passei os olhos pelo "Público" de 10 de Setembro de 2011 e extraí este artigo de Vasco Pulido Valente, que vem ao encontro de uma opinião minha de há largos anos e que deixo à apreciação dos amigos que habitualmente visitam este Blog.


O "VÍNCULO"



Há em Portugal uma casta priviligiada que não pode ser despedida ou despromovida, que vai crescendo sempre em necessidade ou razão visível, que se criou por influência pessoal ou política e em que ninguém se atreve seriamente a tocar. Já se percebeu que estou a falar do funcionalismo público, de que fazem parte nada menos que 700 mil criaturas (se as contas estão certas, o que é duvidoso). Em campanha eleitoral, o PSD, o CDS e, de quando em quando, o PS costumam prometer que vão reformar o Estado, sabendo perfeitamente que não o podem reformar (como coisa distinta de o ir aumentando) por causa da enorme multidão que ocupa e que tem com ele um "vínculo" indissolúvel e perpétuo. Esta extraordionária mentira explica, em grande e boa parte, a Crise Portuguesa.





O artigo continua até acabar neste final;



Este governo já contratou à volta de 5 mil pessoas (parte, fatalmente, "com vínculo"). Quantas despediu? Mais mal pago, o "monstro" continua, imperturbável, a devorar o país.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Escola de Damas em Lagos

Desde de Maio que funciona no Núcleo Sortinguista de Lagos, uma Secção de Damas Classicas. Aparece, aprende, trás amigos e joga...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Simples, está muito calor !...

(dedicado a Ruaz Ramos pelo autor)




quarta-feira, 15 de junho de 2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

The Merry Boys - Uma grande Banda lacobrigense

Creio que no princípio dos anos 60 quando nasceu em mim o vício da música e ouvia os ensaios desta banda, acendeu-se uma luz quanto o saxofonista Vitor Moreira me convidou para vocalista dos Deltas. Cada vez que passava pela "Ladeira da Inês" parava e escutava os acordes e as discussões (naturais) dos ensaios dos Merry Boys, ficava entusiasmado. Um dia alguém me disse que havia algo de especial no ensaio. Corri mas cheguei atrasado, soube depois que o guitarrista Carlos Meneses (grande figura do Music Hall português) tinha estado presente no ensaio, assim como o Prof. Anatólio Falé e que tinha havido uma Jazz Sensation com estes dois grandes músicos.

Os Merry Boys foram ao tempo um boa banda de entertenimento e a primeira que vi com Orgão Electrónico (som que desde logo me fascinou). Quando da explosão do turismo no Algarve, foi também a primeira banda do Barlavento a ser contratada para Hoteis. Lembra-me que tocaram durante algum tempo, no Hotel Penina.

O José Luis da Glória (o seu lider) era já um músico com boas "orelhas" e conhecimentos, que faziam dele um bom solista da guitarra. Era o homem que organizava, ensaiava e escolhia o repertório de qualidade em função das pessoas que os ouviam.

Lamento que não tivessem deixado nada gravado, seria um tesouro. Lembra-me vê-los actuar em algumas ocasiões; bom som, boa harmonia e alegres como o nome sugeria.

Uma Banda da nossa terra que não esqueço.



Matoso e Carlos Sousa




Carlos Azevedo e José Luis

Passaram ainda por esta banda músicos como: Rogério Limão (acordeon), Tino Costa (acordeon), João César (acordeon), Eugénio (vocalista) e Paixão (contra-baixo)


Eugénio (antigo funcionário do B P do Antlântico de Lagos)



Esta Banda chamava-se (creio?) Vera Cruz - ainda na foto: João Fulana, Manuel Guerreiro e J. César. O M. Guerreiro (falecido) viria anos mais tarde a dedicar-se ao Jazz - Bar Cheminé, Carvoeiro.




João César




Mellow Yellow e Abbracciami Forte Duas canções que os vi e ouvi interpretar bem.
BRAVO Merry Boys - Valeu a pena...
Post de Armindo Gaspar 10/03/2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

"CARNIVAL TIME" O enterro do Entrudo (anos 50) - Lagos






A pedido do amigo José António (da ElectroLagos) e porque estamos na época do Carnaval, uma vez mais a Lenga Lenga...
Lenga Lenga Lacobrigense - original de Armindo Gaspar

Chegavam de todo o lado.
De bairros de velhas ruas de becos e quintais, gente boa simples anónima e sem nome.
...Apenas, apenas "Alcunhas".
O ar cheirava a frio, som, cores e a alegria, era um carnaval da província. A Praça da Música aonde nas tardes frias de inverno corpos frios aqueciam ao sol, era o lugar do festão. Alguns papeis coloridos esvoaçavam presos a fios de pesca.
...A noite comia o dia.
O cheiro do polvo nas brasas , dos grãos torrados da batata doce cozida, das castanhas assadas
das filhós e "seringonhos", era contagiante. Em cada recanto da Praça vendiam-se guloseimas; A Maria das Caldeiras das castanhas, a tia Rita das pevides, a ti Caetana dos pirolitos e o tio Frederico Feles (Félix) com os Drops Americanos.
Junto ao Mercado dos Escravos a voz do Zé do Maraquilhé.
- Quem quer comprar maraquilhé ?
Sob a protecção da Igreja de Sta. Maria, naquele coreto de ferro velho pintado e pedra fria, ia à cena uma cegada sobre o enterro do Entrudo. Chegavam de lã vestidos e de samarras da feira-franca, personagens de mistério, uns mascarados outros entrapados e até alguns desnudados da zona do cemitério. Montada a tralha no coreto começara o bailarico.
O Inácio sagreiro que não cobrava dinheiro fechava os olhos e abria o fole, o Atóine da Chã,
o Mané Major cabeçudo, o Augusto da moleta na guitarra, o Lava a Cara no "jaz", o Jaquim
Xaiôta na gaita, o Ginja na trompeta e o Zé Cailogo nos pratos. O Eduardo Chapagem no bombo, o pai Falé no harmónio, o Manél Carreiro na concertina, no contra-baixo o Paixão (pausa) e o Artur Baldeôrras que endoidava a orquestra, num samba de ocasião.
De uma assentada chegaram;
O Portela, a Peidoca, o Domingos Chinês, O Henriquinho-bom-Mocinho, o Zé Raxú, o Redondo,
o Fecha-a-boca-Antero, o Leonardo coxo, o Canta o Galo, o Chico da Cal, a Latombas, os Capa
Branca, a Chica Dezoito, o Brinca à Sombra, a Derrete, e a "Barcelisa". A Chica Ragatôa, a Rabina, o Joaquim Porco, o Xico Calhau, o Cabecinha d'Alho, o Pixita, a Jorgina Ramelica, o Orelha Ratada mais o Sr. Prior e de Espiche o Chico Benico com o seu fato multicor.
Comiam bebiam e foliavam, qual Rio qual Koel ou Veneza? Este era o carnaval nº. 1 com certeza. Na noite de sede e de farra, já se dançava. A malta pulava, roçava e rosava até o sangue
ferver. Ao longe, os "mirones"; o John Café, O Victor-pé-de-Chumbo, o João Toureiro, o Carlos Sorna, o velho Graça Mira sentado na motoreta, a Vitória-Gata-Assanhada e isto ainda não é nada. Mais um copo, uma aguardente, tocava o sino da igreja, - qual óleo ou aguarela - do Armazém Regimental a controlar o espectáculo, espreitava o Júlio Ramela.
Enchia-se a praça de gente anónima com graça;
O João Cowboyada, o Márinho engraxador e até o padre Eudoro, que ainda há quem por ele chore. O Caindinho, o João Ramelica, o Marinho Tarejo, o Adelino Racú, a Ramboia, a Julieta
Canané, o Xico Feio, o Martins dos caixões, o Gilberto Lambeta, o Comeciá, o Armando Cowboy-Preto, o Chico Panco, o Zé Xotinha, a Ilda Pardal, a Miss Lixívia, as Pá-Caiádo, o Júlio
Puto, o Borda-d'água, o Chorão, o Armando Malagueta e tio Gaspar Galinha que até disse que não vinha.
Comentava-se, que o Enterro vinha a caminho, mas ainda não!...
-Uma desilusão, dizia o Rogério Aldrabão.
Era a Banda Filarmónica, que quer sim ou não se queira, o maestro era o Palmeira. Atrás; O capitão Abóbora, o Jesíno, o Zé Umílo, o Alcatrás, o Sebastião Lulu, o António da Sabina, o Armindo Ranhuça, a Laurinda maluca, o Armando Bicho, o Zé Sapateiro, o Barroso barbeiro, o Atóino da Marranita, o Janita Churrú, o Caldaja, o João Marreco, o Zé Lagarto, o Ilídio Bocage, os irmãos Macaco, o Jorge da Paulina, o Joaquim Besugo, a Vá ao Mar, o Cabeça de Boi, o Jeitoso, a Magana, o Lombriga, o Zé Mirra, o Américo Pápeira, o Bota Fogo, o Carimbado, o Calminha, o Gravatinha e ás páginas tantas, o Ladrão das luvas brancas.
Continuava o bailarico;


O Inácio Sagreiro que não cobrava dinheiro, fechava os olhos e abria o fole, o Atóine da Chã, o Manél Major cabeçudo, o Augusto da Muleta na guitarra, o Lava a Cara no jaz, o Jaquim Xaiôta na gaita,o Ginja na trompeta o Zé Cailogo nos pratos, o Eduardo chapagem no bombo, o pai Falé no harmónio, o Manél Carreiro na concertina, no contra baixo o Paixão (pausa) e o Artur Baldeôrras que endoidava a orquestra num samba de ocasião.



O Presidente da Câmara levantou-se da cama p'ra ouvir a banda tocar. O Sr. Padre de joelhos já com os olhos vermelhos, de tanto rir e chorar. O Jaime Graça falava. Cuspia um cigarro que roía e de olhar esbugalhado, quase caía para o lado sem saber o que dizia.
Vendiam-se bilhetes p'ra rifa. O Zé-dá-Peidos o tesoureiro, p'ra festa do ano seguinte era preciso dinheiro. A quermesse também lá estava com o seu pequeno leilão, às receitas da igreja era feio dizer não. A rapaziada da Barcaça disse sim estava presente, isto era bonito e alegre e fazia a malta contente. Não parava de chegar o povo lacobrigense;
A Xica Janota, o tio Jaquim-das-Vacas, a mademoiselle "A Vargas", o Jacinto-pé-de-Galo,
o António Loiça-fina, o Rogério Monhé, o Florindo-o-Burro-é-Meu, a Cara Linda, o Artilheiro, o Jaquim Canané, o tio Alhinho, o Rogério Piolho, a Antonieta Martela, o Joaquim Caca-Seca, o Aníbal Setenta, o Armando Rata-Morcelas, o Quatro Olhos, a Quarenta Cabelos, o Mata gente, o Camachinho, o Chalupa, o António Lipica, o Joaquim-Sabe-Tudo e eu ainda não disse tudo.
Cheirava a Pó-de-Arroz, a Naftalina, a Água das Rosas e Brilhantina. A ranço das frituras, bagaço e cerveja. E a garrafa de vinho embrulhada num jornal, para que não se veja.
Algures a voz do Palmeira - Tá xegadinho, vé lá vé lá!
A meninada que por ali brincava seriam mais tarde;
O Chico General, o Come-e-drome, o Carlos Fininho, o Estoia
o Zé Sopapo, etc.
Em acordes ressonantes
inspirados na aguardente,
ia safonando a orquestra
p'ra animar aquela gente.

O Inácio sagreiro que não cobrava dinheiro, fechava os olhos e abria o fole, o Atóine da Chã, o Mané Major cabeçudo, o Augusto da Muleta na guitarra, o Lava a Cara no jaz, o Jaquim Xaiôta na gaita, o Ginja na trompeta e o Zé Cailogo nos pratos. O Eduardo Chapagem no bombo, o pai Falé no harmónio, o Manél Carreiro na concertina, no contra baixo o Paixão (pausa) e o Artur Baldeôrras que endoidava a orquestra num samba de ocasião.

Como loucas, dançavam a Calhau, a Zé Marau, a Mordela-de-cão e a Bertelina Môcha mascarada de lata de banha, que ao encontrar par, teve uma sorte tamanha.
Chegavam os retardários;
O Zé Tónio-mata-a-mãe, o Zé Manél Pifano, o Xico Setúbal no seu pregão -Quem quer comprar carne de porco vá a rua da Zorra!?, o Jôquim Caca-seca, o João Melão, o Romeu Pacote, o Zé Garrôcho, o Jaquim Caldeirada, o Américo Pintor, o Serafim Caiador e o Manél Alcatraz. O Aparício Gago, o Zé dos Chibos, o Jaiminho Despachadinho, o Xico Salmonete, o Calanito, o Chupa-dedos, as Engole-espadas, o Makuna, o Lopo-Môcho, o Jacinto Cuco, o Adelino Sagorro, o João Bloito, o Joaquim Roxinol, o Jesus Martelo, o Barriga de Vaca e o Augusto "Gramesil" que dava um e queria mil.
Aumentava o burburinho o Enterro estava a chegar. Era a loucura!
Qual feira qual romaria. Ouviam-se gritos e gargalhadas o corteja estava ali, abriram-se fileiras para o cortejo fúnebre passar - tira da frente! tira da frente! - dizia o Palmeira, enquanto alguém gritava no Coreto.
-Parem o baile parem o baile. -Chegou o Enterro (comédia e crítica social).
...Ia à cena a Cegada.
A moçada fugia do Ti Zé Lúcio. A um canto impávido mas sereno, o tio Zé justo apreciava a festança. Passavam as senhoras finas, de mais uma sessão de Canasta, ouvia-se ao longe - ah Malçoado - a voz do Raul d'Alvôr. Pararam de dançar duas damas, Borradas de Chocolate, e o tio Zé Sagreiro com a Elvira Vila Real.

Riam-se moças sem parar
sofria o Abílio Sacristão
que com as calças na mão,
estava à rasca p'ra mijar.

Figuras simbólicas, formas abstractas.

... O Enterro - finalmente a Cegada!
O caixão aberto os acólitos em desespero. O Zé Gaspar era o juiz, o Raul Saltirico a viúva, que de vestido negro mais negro que a sua triste sina, gritava desalmadamente. O morto piscava o olho derramando riso num copo de aguardente. Algumas carpideiras gemiam cinicamente inconsoláveis.
... Por um funil soava a leitura pública do testamento.
Em suave deslizar saíam do caixão à luz de tochas de fogo, as tripas (salsichas) do Entrudo. Era a risada, a alegria de toda aquela gentinha e o resto até se adivinha. Até o Manél Morto-e-Vivo que quando viu o caixão, caiu-lhe os t...... no chão. As mãos do Cangalheiro remexiam a matrafona que doida de endoidecer gritava, gritava, não sei se de dor ou prazer. Do testamento injusto discordava a família; um queria as botas outro o chapéu de coco, era um desafío verbal próprio do Carnaval, a matrafona chorava que ele não deixara nem um tostão.
... Morreu teso! Dizia.
-Teso? Disse o António Milord olhando p'ra caixão - isso não estou a ver!
Continuava o testamento.
-Este pobre coitado, deitado e "escarado", morreu de uma grave alergia ao trabalho. Deixou um tacho de barro p'ra papas, dois púcaros sem asas, e um penico de ... Desmaios, gemidos, arrotos de batatas doces e cerveja, a cada frase do Juiz. Gritos lancinantes da viúva e dos familiares faziam eco nas paredes da praça. A multidão engrossava, gargalhava, delirava e esmagava-se para tocar as tripas do Entrudo que andavam de mão em mão...



Que grande Enterro!
Ouvia-se a algazarra das máscaras vindas do Marítimo, do Metalúrgico, do Sport(e), do Grémio, dos Artistas e dos Ricos. A gente não parava de chegar. O envolvimento colectivo e popular, era uma invasão da folia.
O Jôquim Pute-su-mãe, o Victor Barrigana, o Joaquim P'rico, o Pinduca, o Prega-Saltos, o Enredo do Odiáxere, o Ventas de Lona, o Pintainho, o Atóino Sissi, o Xico Pequenino, o Zé Ilhéu, o Tóino Gorgulho, o Carlos Cágui-té, o Satélite, os Amolas e o Mané Gago. Nas escadas da Messe dos Militares, os irmãos Papo-Seco, o Carrasquinho Gagá, o Chico Estragado, o Zé Tónio Arez o João Gigante e os Capadinhos, preparavam uma tiborna com um casqueiro do Gilberto.
Acabou o Enterro, saíu a Filarmónica gemendo uma marcha fúnebre desafinada e a orquestra voltou ao coreto.

O Inácio sagreiro que não cobrava dinheiro, fechava os olhos e abria o fole,
o Atóine da Chã, o Mané Major cabeçudo, o Augusto da Muleta na guitarra,
o Lava a Cara no jaz, o Jaquim Xaiôta na gaita, o Ginja na trompeta, o Zé Cailogo nos pratos,
o Eduardo Chapagem no bombo, o pai Falé no harmónio, o Manél Carreiro na
concertina, no contra baixo o Paixão (pausa) e o Artur Baldeôrras que endoidava a
orquestra num samba de ocasião.

Dançavam saltavam deliravam, era um arroubo do espírito. Já ninguém se entendia na noite que já era dia... O som o suor e o vinho, qual feira qual romaria!? O orquestra não parava de tocar.

O Inácio sagreiro que não cobrava dinheiro, fechava os olhos e abria o fole, o Atóine da Chã, o Mané Major cabeçudo, o Augusto da Muleta na guitarra, o Lava a Cara no jazz, o Jaquim Xaiôta na gaita, o Ginja na trompeta e o Zé Cailogo nos pratos. O Eduardo Chapagem no bombo, o pai Falé no harmónio, o Manél Carreiro na concertina, no contra baixo o Paixão (pausa) e o Artur Baldeôrras que endoidava a orquestra num samba de ocasião.

Soaram dois apitos?!, A Guarda Republicana. Perto da parede do rio, sarrabulho pancadaria, os Pinguinhas, o Zé Careca e outro armado em atleta, lutavam na multidão. Estava a pintura borrada e a festa atazanada, saiu da praça a orquestra e o baile chegou ao fim. Voltavam pescadores do mar e a gente começou a zarpar.
Acordava o sol dorminhoco, soavam os sinos p'ra missa.
Uma voz rouca bocejou.
-Até para o ano...

*Conheci todas estas pessoas
com as respectivas alcunhas.

"O tempo não apaga
A Lagos que eu vivi,
Tantos sonhos e ilusões
No dentro d'eles cresci."

(um misto de realidade e ficção
à Lagos da minha infância)

*A cegada aqui exposta, é uma associação do Enterro do Entrudo
e da Serração da Velha.