sábado, 17 de novembro de 2007

Música e tradição

Tal como o som das sereias que encantavam os marinheiros, sempre existiu o som das pulsações da vida, do trabalho, do amor e do significado da dinâmica social, (oceânica ou telúrica) que têm eco na música tradicional.
A música tradicional de qualquer país, é a arte que retrata o fascínio da relação entre o homem
e a natureza em todos os seus aspectos; tonalidade, trabalho, alegria, miséria, luta pelo pão e pela sobrevivência. E é no seu panteão que repousam o hábito, o som e a palavra, ícones de vidas rurais e marítimas cujas migrações desaguaram na miscigenação de culturas.
No gemer de uma carroça de bois e na agonia de uma caravela, está a música deste Portugal.
Por má formação ou ignorância, nem todos assim pensam, porque não vêm nela tudo aquilo que nela se desdobra, mas apenas, motivo para riso depreciativo, porque não conseguem decifrar o que as suas pobres orelhas ouvem.
É confrangedor ver certos obnóxios, fazerem chacota da música tradicional e folclórica portuguesa. Infelizmente, neste Portugal a estupidez ainda fala alto. Mas no meu íntimo, continuarei por esta estrada indiferente às aves sem asas.
Viva a música tradicional portuguesa.

(por tudo o que acabo de dizer, formei o TABÉMDÊXA)

VIVÁ MÚSICA

Armindo Gaspar

TABÉMDÊXA

TABÉMDÊXA

Um novo grupo musical em Lagos. Nascido à beira-mar, à beira-sol
e criado com figos e medronho.

Fotos de ensaios e fotos individuais.






Rui


Leonardo





Armindo


Júlio


Hélio


Bandarra









domingo, 11 de novembro de 2007

TABÉMDÊXA

Nasceu em Lagos um novo projecto musical. Os TABÉMDÊXA, um grupo de Música Tradicional e Popular Portuguesa, que irá (principalmente) tocar originais com palavras dos poetas da nossa região.
O grupo é constituído por: Leonardo - acordeon e teclas, Hélio - bateria, voz e percussão, Bandarra - guitarra clássica, voz, guitarra de fado e cavaquinho, Júlio - guitarra clássica e voz, Rui - guitarra baixo e cavaquinho, Armindo - guitarra clássica e electrica, bandolim, guitarra baixo, harmónica e piano.
Este projecto nasceu para ocupar o seu espaço, junto aos que teimam em cantar os nossos poetas e os nossos músicos. Alguns dos elementos do TABÉMDÊXA, vêm de larga experiência
e de várias correntes musicais.
O grupo está a trabalhar desde alguns meses, e espera apresentar-se brevemente.
Depois de algumas fotos de apresentação dos músicos e do seu espaço de trabalho, deixamos como cartão de visita, alguns dos textos já musicados.



A matança do porco

Cuidem-se pobres tristes, desconfiem
do milho farto ou figo à tonelada;
da bolota que for dada não se fiem,
nem da batata doce, ou da cevada.

E quando numa fria e turva aurora
vos cheirar a medronhos e a pastéis,
ai de vós, pobres tristes, nessa hora,
vossa vida nem vale cinco réis.

refrão
Querem de ti a flor dos teus sentidos

o chispe, a cachola , o coração,
a tenra febra para assados e cozidos,
e o presunto, com ovos ou com pão.

Deitam a tua banha a coalhar
para dentro de tachos e panelas
e da carne e toucinho que sobrar
fazem de ti chouriças e morcelas. (de Vieira Calado)

Teso
Teso pode ser calão
usado na nossa língua,
p'ra mostrar a condição
de alguém que vive à míngua.
Também pode definir
com diferente intenção,
a maneira de sentir
calor em certo orgão.
Ser teso por nada ter
é motivo de tristeza,
mas teso noutro dizer
é gostoso com certeza.
Ficar teso significa
cumprir destino fatal,
se a morte nos estica
numa tesura geral.
Quero mais teso andar
passar fome ou ser preso,
do que a vida deixar
não sentindo que sou teso. (de José Palroz)


Ana mil-homens (uma estória de outros tempos)

Vestida de algas
sol e maresia
de pés descalços
brilho e magia,
sorria alegre
ao moço amado
já prometida
sonho guardado.

Corpo perfeito
face rendada
um xaile de rede
e a tez queimada,
chegou o barco
de quilha ao ar
ele não voltou
levou-o o mar.

O amor precoce
não dá à costa
de ondas sem seiva
ela não gosta,
sobe a maré
molha a desgraça
esconde o olhar
a quem lá passa.

Moura encantada
flor de um mundo
solteira e nua
caída ao fundo,
abana o lenço
de despedida
guarda-se aberta
p´ra outra vida.

morre a esperança
nasce a saudade
na boca rosa
um beijo metade,
o coração
foi cobiçado
em más areias
atraiçoado.

Era a menina
Ana da Rosa
por amores falsos
mudou de nome,
Ana mil-homens
chamam-lhe agora,
chora na praia
quer ir p'ra fora,
pelo mar fora. (de Armindo Gaspar)