terça-feira, 31 de julho de 2007

Dos tocadores algarvios


O Manél Jacinto tocador de harmónio do Monte Judeu,
conhecido por o Fanhoso, estava a tocar numa descasca
(de milho) e começou a ficar intrigado porque os bailadores
olhavam para a sua mulher, que estava sentada num banco môcho
a seu lado no "palco", parou a música e foi também olhar p´rá
patrôa e qual foi o espanto de ver a sua mulher sentada de pernas
abertas e sem cuecas.
Arrumou o harmónio no saco de pano e foi-se num ramôco fanhoso.


Outro dia.

Estava a tocar, mas como só sabia três modas a rapaziada
não gostou e vai um esperou que ele abrisse o fole todo
e cá vai disto, com uma faca fez um buraco no instrumento.
O Manél Jacinto pirou-se zangado foi arranjar uns "côtos" de velas
que colou nas carapaças de cágados e como a noite estava escura
os bailadores que regressavam pensaram ver almas do outro mundo
e fugiram com medo.


Só no Algarve!

Uma algarvia estava a "olhar" a televisão,
quando passou um spot publicitário sobre
uma tourada que iria ter lugar no dia...
Viu um forcado espetar as bandarilhas na lombeira
do touro e disse.
-Iste é uma vergonha fazer aquile ô anemále!
O marido sentado ao lado resmungou.
- Ó mulher do diabe, se nã gostas de ver "desvia" a
televisão pâ ôte canale !

E que tal, só na nosso dialecto.
Baccio

segunda-feira, 30 de julho de 2007

A minha terra é o meu canto


Só sinto o canto,
quando a minha terra canto

O dono do Baccio com seis anos, antes de vir para Lagos.

Como podem ver o style é fabuloso.

Camisa Emanuel, calças Augustos e sapatos Pierre Cardin.


QUE GRANDE PINTA!


Era assim

O Saloio o mar e o betão

Um tiozinho da Atalaia olhando o
betão em redor, sentou-se num baloiso
ouvindo o pranto das últimas figueiras
e amendoeiras, voltou-se fitando o mar
do cimo do penhasco do Porto de Mós,
comeu um figo torrado e num desafôro
cantou.

olhande o mar
as vagas 'smorecem
côme cuspinhe, no areal
serene e calme
n´é côme o sueste que faz caguífa.

tanta casa e pouca àrvore
gostava ter um barque pã d'spáircer
má custa o coire e o cabele,
dá-me cá uma rabiada!

o mar,
já de môce tinha cá 'sta paxão
má na se vê pexum denhum
pá massa de calde com pementão

bem,
na vale a pena ramocar
vai bofe com batatas
e uma fatia de pão


um d'sinf'liz
e 'inda po cima
tenhe um verrugão
no nariz
qu'é côme quem diz
tô farte do betão

TAIPAS SALGADAS

Coisas da faina do mar

Os barcos chegavam à ribeira depois da pescaria,
Na praia as mulheres esperavam os maridos para
levarem algum peixe para casa.
Soavam vozes misturadas com a faina.

-oh Tóine, á pexum côme merda !
-ôje vai pêxe pó Carrasquinhe
vou esvazar e voltar ó mar.
-é tamém
-oh chica, leva as botas e pôe ó sole
(outro)
-Maríla, pôe feijãe de môlhe pá manhãe,
vai feijãe cô arroz e pêxe frite.
(outro)
- isso é cá uma cum'zama
(uma para o filho)
-tá calado môce d'um cabrão, vai berrar
pó raie que te parta
(outro)
-tôma o pêxe e na te ´squeças dar comer
ó pintassilgue -olha! na dêxes a Vetóra ir
sozinha ao baile do marítme.
(outro)
-Elvira, óh Elvira tô farte de pêxe, faz baja guisada
e pôe as redes na rua
(outro)
-Delmira -olha, garda a Xôxa pá manhã.

(esta história é verdadeira e eu conheço o
último outro).

O corridinho é algarvio ?



Divulgado pelos alguns folcloristas, com duvidosa autenticidade e gosto,
o corridinho é uma expressão musical e corporal cuja propriedade
que ao contrário do que se diz (e muito bem) não é só algarvia,
pois existe e é tradição em muitas outras zonas do país.
Alguns musicólogos e historiadores atribuem a sua origem,
a uma importação europeia do século passado e que tem as suas
raízes na polca e no schottish.
Em primeira mão era tocado por duas ou três Gaitas (harmónicas)
e os seus tocadores diziam e com razão que o corridinho vinha do fado. Também penso que sim. É evidente que o fado corrido tem a ver com
corridinho, na só nas palavras como na forma.
O corridinho que corre em outros sítios é também
escrito em 2/4 mas é mais valsejado, talvez influências do vira e da chula .
Fica no entanto a certeza que a dança é de facto algarvia.
O repicado, o rebatido e a escovinha são coisas da gente do algarve.

música e letra
de Armindo Gaspar
CORRIDINHO MALANDRECO

o corridinho
deve ser ligeirinho
e também atrevidinho
pr' as moças animar

voam as saias
e as blusas de cabraia
côr do campo mar ou praia
nunca param de rodar

entra a escovinha
e a roda miudinha
anda cá moça qu'és minha
faz miar o meu tareco

e é nas fogueiras
que há desfolhadas brejeiras
algarvias brincadeiras
corridinho malandreco bis

refrão


óh zé
aperta-me nos teus braços
tem cuidado co's meus laços
que me estás a aleijar

maria
eu não te deixo fugir
à igreja quero ir
para contigo casar


*A foto lembra quatro pares do Rancho Folclórico de Lagos
dançando o corridinho.
O Sr. da esquerda era o José Gaspar (meu pai) fundador do grupo
e um Senhor que a cidade de Lagos esqueceu.







sábado, 28 de julho de 2007

O tareque malandreque



O Baccio malandreque

sempre fez o que quiz,

pôs as patas nos quôdris

duma moça atrevida

e escreveu um corridinhe

o primêre da sua vida

e já velhe e em má 'stade

o vendeu por um cruzade.


As composições do "Baccio"



Para ele (Baccio) a música está em primeiro lugar.
O texto é ficção, mas podia ser real.
Se não sabes ler música ainda estás a tempo de aprender.
Do terceiro CD do Baccio "Gaveta Aberta"

O camelão


O Baccio o as gatinhas


Deixou a vida funda e antiga, de viajante indefinido,
mas por vezes em súbitos ventos do norte, o Chinês(como dizia o amigo Quim) acorda-o e ele mia...

AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ

as voltas que o mundo dá
ó minha flôr quem diria
já não sei se o teu pólen
é tristeza ou alegria

no tempo perdi a esperança
e na esperança a razão
no teu jardim oh Camélia
ficou o meu coração


só, só tu e eu,
canto que é meu e teu
sonho que faz o sol florir
sei lá
estou por cá
volto
quando sempre quero partir.

trouxe o tempo o reencontro
e as marcas da noite e dia
as voltas que o mundo dá
ó minha flôr quem diria.

O felino e a natureza


O Baccio semeou à 20 anos no jardim uma cameleira
que todos os dava os anos uns botões que não cresciam,
até que um dia - há sempre um dia - nasceu uma camélia
soberba, linda e encantadora.
O Baccio olhou, roçou, cheirou, e miou.
... Uma camélia !



sexta-feira, 27 de julho de 2007

O repouso do guerreiro


Ele "Baccio" cada dia se cansa na contínua inquietação
esfuzilante das ideias. Pobre guerreiro! No frente a frente
com o mistério das palavras e notas.
Ah, ânsia felina, porque corres tão louca ?
...Porra que me arranhei!

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Lagos -ontem-

Não consta no meu perfil, mas sou um alienado pelo jogo das Damas.
Desde de miúdo frequentei todos os lugares à procura de um Tabuleiro e
durante esse tempo, aconteceram episódios relativos ao jogo que não esqueci.

Um dia...

"Comendo as pedras do Gamão"
Para ali convergiam todos os aficionados Lacobrigenses do jogo das Damas.
Depois do trabalho até à hora do jantar, uns jogavam e outros cercavam os
jogadores espreitando e tecendo comentários sobre este ou aquele lance.
Eu, ainda jovem ganhei o gosto por aquele jogo ali no antigo Café Portugal de
Lagos. Hoje, confesso que não existiam por ali grandes jogadores, mas um
grande frenesi que se misturava no fumo do tabaco e no aroma da cafeína,
era notório. O Sr. Marreiros, o Furtado, o Joaquim Encarnação, o Carlos do
Museu, o Sr. Pires, até o Manuel Serrão e o Rosado que vinham dos arredores
da cidade em visitas fortuitas, mas intencionais. Havia sempre alguém que fazia
deslizar as pedras pelo tabuleiro.
Num desses dias jogavam o sr. Marreiros e o Armindo "ranhuça" (personagem
típica da cidade), que era um mau jogador. Enquanto o jogo decorria, o sr. Marreiros
- jogador razoável - ia deixando intencionalmente o "ranhuça" comer-lhe as pedras
e enquanto o distraía com conversa, colocava no tabuleiro as pedras do Gamão
que estavam noutra mesa ao lado. Às páginas tantas o burburinho rebentou, quando
o "ranhuça" olhou para a quantidade de pedras que já tinha comido e zangado disse
em voz alta -Então eu já comi estas pedras todas e o jogo nunca mais acaba !? Claro
que foi a risada geral de quem estava a assistir ao burlesco.
*Este personagem e o irmão (mudo) foram os primeiros barqueiros a transportar
os banhistas da cidade para a meia-praia.

Passatempo (um CD a quem resolver o problema)


quarta-feira, 25 de julho de 2007

Vivó Sporting

Este tom verde de pensar

Por razão de costelas verdes, escrevi por
encomenda um hino para a Casa do Sporting
de Lagos, mas estou à espera ouvir a gravação.
-Mãos à obra lagartos !



Música e letra
Armindo Gaspar

NO SONHO E NA GLÓRIA

Lagos tem um coração de Leão
verde irmã do sonho e da glória,
brilha alto este romance, esta paixão
na luta e na vitória.

É comum no nosso sangue este ideal
nos netos filhos e avós,
p'ra vencer até mil vezes cantaremos
a canção numa só voz.

Sporting
Sporting
Sporting
amor e fiel devoção

Sporting
Sporting
Sporting
por ti bate o nosso coração







Folha de Outono

Há alguns anos uma uma égua linda contou-me a história da sua vida.
Mostrou-me um coração acossado por um dragão cujo carácter e conduta,
a conduziram para um abísmo, no qual caíu para a eternidade.
Eis o retrato dessa égua monja.

Folha de Outono

folha de outono
manhã cinzenta
destino frio,
verde sem sal
vaivém de amor vazio

no vento em mudança
vôa a esperança
num desafio,
no horizonte
um barco heróico fluido

no olhar profundo
um sorriso triste,
sobra um vontade
como égua solta partir
num vento de outro amanhã,
que existe

varanda de um mundo
beiral de ilusões de crespa ternura,
sob o silêncio palpitam
seios de amargura



Armindo Gaspar



terça-feira, 24 de julho de 2007

O Pedro da Inês

Num ror de tempo distânte escrevi uma peça musical (da qual irei passar aqui alguns excertos) sobre o amor de D. Pedro e D. Inês.
Como o pedrinho era um mariola isto é, um fogarela p'rás donzelas (talvez por D. Constânça ser "machuna"), vestindo a sua pele, saiu-me esta :

Em memória de D. Inês de Castro

mulheres
tanto quanto convém
com elas me vejo deitado
mas só uma entre elas
vos afirmo que me assela,
no coração bem guardado

amor é fogo que nos queima
é fome e a sede que nos teima
um bem que deus nos consente
poder amar livremente

Armindo Gaspar

ó sole é meu (moda algarviana)

ó tu sole algravioe
feite de luz fôgue e côre
arregoas alegria
sonhes cantes e a dôre

ah sacana d'uma figa
come te goste e te avente
faz verde as nossas côvinhas
d'inverne na geles a gente

casava contigue calmeire
s'inda eras de dinheire
tens ráies d'um caíre rare
fica em Lagues na vás p'ra Fare

moda algarviana

Armindo Gaspar

O S. Gonçalo do Tino


Música e letra
Armindo Gaspar

Vai de roda Sã Gonçale

fala o tempe que s'alembra
dum beate português
que viveu em Torres Vedras
e sante Lagues o fez

à gente que tinha fome
dava o atum do barril
quante mais atum ele dava
dava um crescia mil

refrão

oh mé sante Sã Gonçale
continua a milagrar
vou guardar a tua fé
neste lance d'assoar
vai de roda Sã Gonçale
sante ...ai ai ai,
neste lance d'assoar


se verdade ô maliça
ficou sante milagreire
e a cidade passô ôtra
com um sante padroeire

pescadores de joelhes
p'ra 'scutar a pregaçãoe
ó depôs desta estóira
pãs e pêxe p'rámanhãoe







O Padroeiro de Lagos


Amòchar

D'acolhêta propa da nossa terra


- oh ti chica !
oh Aróra
Constânça
oh vezenhânça !?
vô indo à vila,
o harmone já canta a dança.
- vai-te 'bora Manél
já te disse qu'a minha Aróra nã é
carne p'ós tés dentes
- m'á qu'jête ti chica ?
- ela tá bem 'inda soltêra,
vai e na caias à rebêra.
-ah porra dum cabrão, que velha marafada!
...ai Aróra novinha da trinca! (Manél mordendo um marigome)
...avôa rolinha avôa, se pôsas no mé ninho !?
...à Manel coitadinho.

A trigueira de Bensafrim (ai 'sus catrapuz)





segunda-feira, 23 de julho de 2007

Taipas saloias

Feijão carito não é p'ra qualquer um,
porque quando sai o traque é cá um federum.

Baccio (devon rex)


Porque não tenho cara para a internet, fica a foto do meu gato Baccio
que é muito mais bonito do que as caras que vejo por aí nos Blogs.